Essa poesia, com uma estrofe de conclusão a ser escrita, foi feita pelo meu grande amigo Erick Marquardt de Araújo e eu. Cada um escreveu uma estrofe e, assim, fez-se um diálogo ao longo do poema.
Amigo, eu digo que da vida não sei um terço,
fui fiel a cada sentimento que tivera,
não fiz mal nem aprovei quem o fizera,
e mesmo assim sossego eu não conheço
Entendo, meu caro, seu profundo e sincero descontento.
Ainda que as asas soturnas dos dias se abram em prantos
A cada aurora resta vívida chance de novo encanto,
Para equilibrar e expurgar este seu desalento.
É o que dizem, que tudo alcança quem espera,
mas esperança, meu caro, já não vejo,
se o mesmo céu onde o amor me acolhera
hoje entrou com a ação do meu despejo.
Assim é a vida: ora céu, ora inferno, ao longo do claro e do escuro.
E, cada sorriso sincero prova que o frio do inverno, não é eterno, nem absoluto.
Tanto assim é que há quem, ali, não vê em você só luto.
Com aquela ali de sorriso terno, quem sabe não sai do abismo para o mundo?
Ah quem me dera, poder despir-me do luto
e aos sorrisos ternos aliar-me como amigo.
Mas como pode, após vagar em agonia e desabrigo,
um coração semear o amor onde é solo devoluto?
Deixando na estante das experiências os dissabores
Livres para serem consultados, e não mais adorados.
Deixando de rezar teimosamente para estes “santos” amargores
Como se eles representassem, ainda nessa sua idade
O universo pleno e ilimitado de todos os pesares, de todos os amores.
Seguir adiante, meu caro, em frente é o que mais escuto.
Minha caminhada sempre foi de fé, de força, fremente;
porém é contra minha mente fértil com que mais reluto,
que de escárnio faz do meus amores inglórios presentes!
Mas jamais temi pagar em lágrima ou sangue o meu tributo.