segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Colega Ceifado

As folhas sobre a mesa, imóveis
Os afazeres suspensos, inconclusos
Bilhetes com lembretes óbvios
Um pesar assim inoportuno

E-mails esperam sem resposta
Ligações perdidas se acumulam
Mesmo quando alguém bate à porta
A fúnebre sala em nada muda

Reuniões, a esperar, adiadas
Discussões, a acontecer, deixadas
Brigas e rixas terminadas
A ausência se torna profunda

Os inimigos perdem a natureza
Os amigos perdem a companhia
Remanesce nenhuma certeza
É assim o ceifar da vida.


Hoje faleceu uma colega minha de trabalho. Embora não tenhamos sido amigos e até tenhamos tido nossas diferenças em termos profissionais, senti muito a sua partida. Deixo aqui no blog o que consegui elaborar a partir do luto.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Olhando da margem

Um olhar vascilante, jogado para o chão
A feição murcha, não é vibrante
Vazia de toda disposição

O silêncio ao sol pálido da tarde
Os afazeres sem ceder se amontoam
A solidão dos dias sem alarde
Te engolem, te drenam, te enjoam

O mais do mesmo sem fim
Num mar de azedume sem horizonte
Rodando e rodando, enfim
Num espera fria, aguda e tonteante

Encoberta a tua alma de amargor
Sem saber como estancar tua sangria
Fico às margens, junto com a tua alegria
Esperando o cessar do dissabor.

O mesmo dia

E esse dia, que começa sem um querer de ser mais?
É só mais um, mais um dia, afinal
Nada além, sem poréns, tal e qual
Que nasce para ser tudo do mesmo, tudo igual

E nessas ondas, de vai e vem, repetido
Sou mais um, que reproduz o fazer medido
Caminhando sem perceber pelo ciclo
Desse mais um dia, sem sabor, sem sal
que nasce para morrer igual,
me correndo, me consumindo

sábado, 28 de janeiro de 2017

Mais um texto autoral

Experiência – 05/01/2017
A ansiedade que transbordou outrora
Hoje já não encontra seu lugar
Nem mesmo a sedução ilusória
Aquela de ideais sem par
Sem pés, sem objetivo
Não encontra em mim um nativo
A serenidade que me vem agora
Cuja sombra não havia outrora
Me vem de um saber sem retórica
Nasceu de pilares fundos na memória
No peito, na alma, na calma
Foi o tempo materializado, quiçá
Foram os experimentos na pele
Que nada tiverem de leve
Ou crer que Deus não dará
E, elevando-me à paz que me perpassa
Respirando o prana da maré baixa
De uma praia sublime sem ressaca
Vou guardando as coisas em caixas
Fazendo as malas
Ganhando asas
Mudando de casa