domingo, 27 de setembro de 2009

Visão nublada

Sempre te olhei
Mas nunca com esses olhos
E você já me olhava
com aqueles olhos
Foi então que reparei
quando fechei os olhos
que nada mais faltava
quando depois abri os olhos

E quando depois abri os olhos
Esqueci o lugar que vi
era noite, talvez, abril
E então fechei os olhos

E quando denovo abri os olhos
Ouvi sons estranhos que se ordenavam
As notas longínquas no ar se espalhavam
E mesmo quando fechei denovo os olhos
As batidas e os acordes ainda lá estavam

Ao fechar novamente os olhos
o chão matreiro muito se mexia
querendo usar de pura covardia
para não deixar fechar meus olhos
e tampouco me fazer esquecer desse dia

Nesse instável movimento de maré
nossos lábios no nosso envolver
podiam até no ar nos suspender
mas ainda precisávamos usar os pés
para em pé nos manter

De olhos fechados
De vistas cerradas
e de peles comungadas
a importância da visão
era a última preocupação
O que fiz, ouvi e vi
são agora doce recordação.

Os fatos que geraram a criação destes versos quase em nada tem a ver com o significado da poesia. Pensei em uma situação corriqueira e quis descrevê-la de maneira tão subjetiva e impessoal que acabei dando à poesia um significado distinto.

Só pra constar, todas as poesias que posto neste blog são de minha autoria. Quando há um autor que não seja eu, faço questão de colocar o seu nome.

2 comentários:

  1. Que bonito... Pois é... As vezes temos que reparar mais no que acontece bem do nosso lado...

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  2. Pois é...mas, se a visão permanecer nublada e o olhar não for desviado para os lados, o que foi feito ou deixado de ter sido feito, querendo ou não, pertencerá à memória, de forma inevitável.

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