domingo, 19 de julho de 2009

Todo poeta é uma mula

Todo poeta é uma mula
que não se cansa de levar surra
leva, toma, faz e traz
imaginando ir pra frente, sendo que está indo para trás

esmera suas poesias
vislumbrando formosos dias
reluzentes momentos
sem sombra ou desalentos
sem nada que atrapalhe
a sua ilusão, sua mentira, seu disfarce

é um inocente, um jogado na realidade
idiota, parvo sem questão de saber a verdade
alicerça seus versos, oh! adolescente
se comportando como um fraco e inconsequente

cego por seus versos
tonto pelo belo
ama o que é poético
tudo em nome do elo
que acreditou viver
quando àquela uma esteve a escrever

deixou-se enganar, tolo
quis bancar o pândego
ignorou seu âmago
não pensou, nem raciocinou
à lápis em letras idealizou
um contraste, um paradoxo
algo nem um tanto ortodoxo
uma união sem sucesso
recaiu no regresso

parnasiano clássico
romântico fracassado
teimosia é seu predicativo
oh! poeta se respeite, seja altivo
não se bande em miragem
o que se vê nem sempre é o que é verdade

se queres meu conselho
peço, repitas defronte ao espelho:
versos deves parar de escrever
sem saber se dela vais ter
no final aquilo em que mais estás a crer

Pois é...o beijo frio e despertante da realidade é preciso em certos casos. A partir do que é súbito e até um pouco traumático temos oportunidades singulares para iniciar uma reflexão sobre a postura mental adotada, sobre as buscas que temos e de que maneiras estamos a procurá-la.

Qualquer pessoa sabe que o ideal não corresponde ao real, mas poucas pessoas compreendem isso de verdade. O ideal esmerado em versos, pensamentos, idéias ou anseios passam pelo filtro da realidade e da consequência dos fatos. Portanto, se atirar somente pela crença, sem ter pelo menos um pé no chão, é pedir para sofrer um revés ou contar apenas com a sorte, que pode ou não bater randomicamente à porta.

Devemos sempre sonhar e ter ambições, porém, para que essas coisas se tornem verdade temos de moldá-las de acordo com a realidade. No fim das contas, é só seguir a analogia da nossa própria anatomia: cabeça (= sonhos) ao alto, olhos focados para frente (= objetivo), pés no chão (= realidade) e todo esse conjunto caminhando (= fazendo esforço) para frente (= atingir o objetivo).

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